HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo:Companhia das Letras, 2001.
Este livro é um clássico da historiografia e das ciências sociais brasileiras, muito difundido nas instituições acadêmicas, perpassa a formação de estudantes de diferentes graus. Com uma metodologia dos contrários, o autor apresenta um jogo de oposições e contrastes, numa meditação de tipo dialético, que leva à reflexão de que o conhecimento do passado deve estar vinculado aos problemas atuais.
Este livro é um clássico da historiografia e das ciências sociais brasileiras, muito difundido nas instituições acadêmicas, perpassa a formação de estudantes de diferentes graus. Com uma metodologia dos contrários, o autor apresenta um jogo de oposições e contrastes, numa meditação de tipo dialético, que leva à reflexão de que o conhecimento do passado deve estar vinculado aos problemas atuais.
A obra é dividida em sete capítulos, respectivamente, Fronteiras da Europa, Trabalho e aventura, Herança rural, O semeador e o ladrilhador, O homem cordial, Novos tempos e Nossa revolução. Nesses capítulos, Sérgio Buarque faz uma trajetória da cultura nacional a partir da colonização e ressalta que a tentativa de se implantar uma cultura européia em um território tão diferente é o fato dominante e mais rico em conseqüências nas origens da sociedade brasileira. De Portugal, veio a forma atual de nossa cultura, marcada pela cultura da personalidade e pela presença do homem aventureiro, que vive a ânsia de prosperidade sem custo, em oposição ao trabalhador. Toda a estrutura de nossa sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos, Portugal formou no Brasil uma civilização de raízes rurais que comporta em muitas ordens elementos intimamente ligados ao velho sistema senhorial. Em “O homem cordial”, o autor revela como maior contribuição brasileira para a civilização a cordialidade, a hospitalidade, a generosidade, aliás, traço que precisamente afrouxa e humaniza o rigorismo dos ritos no Brasil. Esses padrões coloniais viram sua predominância ameaçada com os fatos que sucederam à vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, como o crescimento das cidades em detrimento do mundo rural. Mas, no capítulo final, há uma advertência que somente através de um processo revolucionário da dissolução lenta, posto que irrevogável, das sobrevivências arcaicas, que o nosso estatuto de país independente até hoje não conseguiu extirpar, teremos finalmente revogada a velha ordem colonial e patriarcal, com todas as conseqüências morais, sociais e políticas que ela acarretou e continua a acarretar.
A leitura do livro sugere a liquidação das raízes como imperativo do desenvolvimento histórico e aponta o povo como cuidador do seu destino somente a partir de uma tomada de iniciativa em oposição à idéia de que o crescimento do país deve se dar de fora para dentro, na espera da aprovação dos outros.
Desperta o interesse a abordagem feita em relação à língua geral em São Paulo em que numa perspectiva histórica apresenta-se a formação da língua brasileira. Assim, o livro mostra o papel da mulher na propagação da língua geral e retrata o fenômeno do uso do tupi na era seiscentista e na era das bandeiras e o seu enfraquecimento a partir do século XII.
Raízes do Brasil é uma leitura recomendável a todos os interessados na história do Brasil, na sua cultura, na formação da sua estrutura político-econômica e social e aos estudiosos da língua portuguesa brasileira, pois o povo é representado pela língua que fala e esta faz parte de sua história e origem. Por ser um elemento também social, não há como desvincular os estudos lingüísticos de uma abordagem das raízes de seus falantes, de sua formação cultural e até psicológica, como se observa na questão do uso acentuado do diminutivo “inho” ou do emprego do prenome ao invés do nome de família, como manifestação do homem cordial que se apavora em viver consigo mesmo e “Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro ( ...) tende a ser a que mais importa.” (p.147) e que não separa a vida privada da vida pública.
O autor, Sérgio Buarque de Holanda, foi professor de várias escolas superiores e catedrático de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. Nasceu em 1902 e faleceu em 1982.
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